Alma imoral


Sara já não sentia mais a saudade como algo ruim. A novidade, talvez, venha do fato de que ela, a menina de passos fortes e vestidos coloridos, não tinha medo do vazio. Porque estar no vazio era, enfim, poder criar, descobrir, e mudar o que quer que fosse. Entrar no vazio, despida dos conceitos e padrões com os quais conviveu durante anos, era como celebrar cada descoberta em um dia de festa. Era a hora de viver o que a alma, deliciosamente imoral, pedia. E Sara sabia, mesmo sem entender, que esperar era preciso. E era preciso para a alimentar a alma. Assim, de maneira tão delicada como a cor avelã dos olhos de Sara, a vida, essa vida que ela descobria de pouco em pouco, fazia a espera ser boa, suave, paciente. Pouco importava se o ato de esperar era correto ou errado. Importava que lhe fazia bem. E ela saiu, naquela bonita tarde de outubro, a cuidar, como nunca antes fizera, das mil flores da sua alma.


Bill Brandt, 1958

Assisti, neste final de semana, à A Alma Imoral, adaptação do livro de Nilton Bonder. Eu já me emociono naturalmente no teatro, mas a peça é tão bonita, humana [e divina ao mesmo tempo], que era impossível não referir no blog. Dos textos encantadoramente falados pela atriz Clarice Niskier, surgiram a inspiração para o post e a certeza de que a minha alma é, sim [e que bom!], assumidamente imoral.

2 comentários:

  1. Pô, ainda não li o livro, nem mesmo assisti à peça... Boa pedida! O texto do post é teu? Tu estás cada vez melhor! Amadurecida, diria eu (!?), ou menos ansiosa, sei lá! (basta comparar com os teus escritos antigos...). De qq forma (horrível julgar), gosto mais de ti, hoje... Beijos!!! (espero ter sido entendido).
    Não estou on line, com freqüência no MSN, mas... drwarlet2007@hotmail.com. Abraços!!!!

    ResponderExcluir
  2. pois leia e assista! :D :D :D

    sim, são palavras do meu eu-lírico lúdico! :))

    sabes que eu também prefiro essa minha nova versão felina? hehe... na verdade, acho que é para isto que estamos aqui, não? para melhorarmos a cada dia! :))

    nos falamos, moço valente!

    abraço da gata.

    ResponderExcluir

palavras são apenas palavras,
movimentam o mundo desde
sempre, mas nem todos sabem.