Saturno em transe




frenesi:
a tua boca na minha
mão, pernas, corpo, saliva
da minha língua
no teu sêmen

e Saturno retorna

em transe
em transas, constelações intermináveis
de gozos
únicos, úmidos
cheios de signos, sexos,
samba

e Saturno
sempre retorna

nas minhas fugas
nas tuas dúvidas

no nosso

jeito

Fora da lista


Oi, tudo bem?


Vem sempre aqui? [Ótimo.]


Nasci menina mimada e, anos depois, aprendi a trocar lâmpada, amores e os azulejos de casa. Há quem, como você, goste de coisas feitas sob encomenda. Eu prefiro ficar sozinha. Me dou bem com uma ducha quente e um cinema por perto. Cresci entre coisas doces. Virei mulher com lábios, e vulva, em mel. Bati com a cara no chão. Aos trancos, levantei. Perdi horários, uns trocados e algumas festas. Não me arrependo. Chorei aos quatro ventos e entre quatro paredes. Gozei. Jogada na grama e na cama. Me apaixonei por fulano, beltrano e outros mais. Errei. Acertei. Errei feio. E de novo. Me atirei no divã por necessidade e, por pouco, não pulei do oitavo andar. Só para variar. Casei na Igreja. De véu e grinalda. Cinta-liga e meia 7/8. Hoje dispenso cerimônias e beijo meu homem de cinco em cinco minutos. Tiro a roupa na cozinha, estudo na sala e durmo no banheiro. De porre. Curto Cazuza a todo volume, mas tive que aprender música erudita nas aulas de piano. Fugi de casa. Dei voltas no quarteirão. Tenho grana para uma volta ao mundo. Faço poemas, crio dilemas e encontro soluções. Tenho fome de tudo o que tem cor, movimento, rebeldia. Adoro arte moderna, mas também sei ser retrô. Não devo nada a ninguém. Pago minhas contas, gosto de gatos e detesto cães policiais. E não gosto de você. Aliás, nem desgosto. O seu tipo é bacana mas não faz o meu. Gata que mia e não arranha nunca foi o meu forte. Usei vestidinho cor de rosa nos quinze anos. Mas os trinta me salvaram à la absinto. E sinto muito se você não gosta do meu jeito. Ou se gosta tanto que não consegue deixar de me seguir. Já tentou a literatura russa? Tchekhov, Dostoievski, Pasternak? Ou vá fazer pesquisa de campo. Contar pirilampos. E me dê um tempo! Não tenho paciência para olhos bonitos e pouco assunto. Pelo menos, por enquanto.

Cromoterapia

Neeta Madahar


Eu tenho, entre todas as cores, as tuas. Belezas que me afagam a alma. Pérolas e poemas que eu guardo em mim. Detalhes que esperam tempos que vêm. E passam. Deslindes apenas. Coisas feitas em pequenos pedaços dos meus dias, tecidas no encontro suave dos teus lábios nos meus. Como o vento que beija o mar calmo e colore de anil a imensidão do céu. Como se pudesse passar a minha vida na tua. Com compassos de sons e poesia pintados em sorriso de criança. Em danças astrais de cometas cintilantes. Daqueles que eu te dei de presente. Dos doze signos, dos cinco sentidos, dos sete dias da semana. No sentido horário do amor maior. Aroma de anis. Os teus olhos nos meus e as mãos entrelaçadas. Até o fim.