Em linhas

A minha estranha, e incontrolável, mania de arrecadar as coisas, já disseram, é única. Lúdica. Louca e bela em pequenos tantos gestos pequenos. Em forma de coisas bonitas. E outras coisas mais. Mais sutilezas. Delicadezas. Coisas-poema. Juro, é sinestesia que não acaba. Parece, por vezes, que me toma. Inteira. Nada menos que isso. Nada mais que não se escreva em linhas. Apaixonadas. Curiosas. Palavras-poema.

Ah, essa minha estranha, e incontrolável, mania de arrecadar as coisas...



Arrecado Matisse. Em dias sem cor,
Jazz.


D´ela


E ela ficou lá. Cuidando os olhos brilhantes e azuis. Assim. Quieta. Bonita. Com dengo. Sem medo. Porque se a vida vem assim, em pedacinhos de felicidade, que eles se juntem todos em um dia bonito. Tudo só para colocar um sorriso nos lábios dela. E que os dias bonitos, e bonitos e bonitos, sejam um, dois, três ou infinitos. Que sejam belas as frases, os olhares e os sentidos. Da vida. Dela.


Gockel, Romance in an exotic place


Palavras de uma certa moça
dona de um certo
gato estranho.

.

Pessoal

Pollock, 1952.

Eu acho [mesmo] que as pessoas feitas de poesia são exageradas. E que bom! Porque não me agradam aquelas que vivem do insensato comedido. Me atraem mais as de alma sincera, que não esperam o tempo certo para dar um passo. Ou um abraço. Gosto das pessoas que fazem laços. De fita. Ou de fato. Enlaces. Em suspenses de savoir-faire. Em cores. Diversas. A mim embriagam as pessoas com palavras perdidas em beijos de lua. Em encontros intermináveis. De noite e de dia. Em tudo. No todo. Me envolvem as pessoas das palavras que beijam, que afagam, que cuidam. Das palavras com gosto doce de baunilha e cor de água-marinha. Dos versos que me entorpecem. Em metáforas que me acolhem. No embalo do colo das rimas. Das cantigas. Dos sentidos. Essas pessoas me são caras. São raras. E são parte de mim.

De M. para T.
E com tea for two.

Aprendendo a caminhar

"...porque todos hemos sido niños y seremos viejos,
porque todos dudamos de la realidad de los sueños..." Mario Benedetti


Um ano de blog. E foi poesia sem fim. Foi tudo o que eu fui em um ano. Foi um pedaço do meu rock´n roll com uma parte de mim que é pura poesia. Um exagero em letras maiúsculas, em frases soltas, em textos que surgiram em noites, dias, minutos do meu jeito de ser. Quem me conhece sabe os motivos pelos quais eu iniciei o blog. Um ano depois. E eu aprendi muitas e muitas coisas. Aprendi a fazer, e ter, amigos distantes. Aprendi que uma palavra doce pode mudar uma manhã, uma tarde, um dia ou uma vida. Aprendi um pouco de mim e um pouco de todos que passaram por aqui. Uma roqueira que usa a poesia para tentar levar a vida mais bossa nova, mas, sabe-se lá por que, não deixa um samba-enredo de lado. E complica a vida. E simplifica noutras vezes. Que vive. E vive talvez demais. E por isso seja um exagero do início ao fim. Alguém que acreditou e desacreditou no amor. E que acreditou mais uma vez. E errou. Mas que não mudaria nada, em nada. Um dia, quiçá, o blog termine. E, vai saber, eu escreva um livro antes do anoitecer. Um dia, talvez, eu vá para longe. Em outro quem sabe eu volte. E na volta traga outro sorriso, outras histórias, outras partes de mim. Mas a alma, essa minha alma que não é calma e que transborda de vontade de amar, essa fica para sempre assim, querendo contar estrelas em noites de verão, sentindo o perfume das primaveras, querendo beijos sinceros de amor, acreditando que carinho não se recebe sem troca, sem toque, sem sorriso de criança. Enfim, esse tempo todo me traz lembranças e mais lembranças. E todas lindas. Das de estrelas dançantes a ausências compreendidas. Eu sempre amo. Tudo. Mesmo. Amar é a minha vida. E amar a minha vida, com tudo de bom - ou nem tanto - que ela tem, é o que me faz acreditar que a vida sabe das coisas. E que para todo o dia cinza existe outro lindo por vir. Sempre.



Obrigada a todos, de coração, pelo carinho nas palavras que deixaram aqui. Um beijo de inverno, com céu lilás de entardecer. E que Deus me dê sempre "um lugar onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais". Isso me basta para sempre. :))




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"Quero apossar-me do é da coisa.
Quero possuir os átomos do tempo.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.
Mas bem sei o que quero aqui: quero o inconcluso. Quero a profunda desordem que no entanto dá a pressentir uma ordem subjacente.
Um dia eu disse infantilmente: eu posso tudo. Era a antevisão de poder um dia me largar e cair num abandono de qualquer lei. Elástica."



Clarice Lispector

Que doce!

E eu não sei é sorte ou se é a poesia da minha vida que faz com que, por acaso, me cheguem sempre coisas [e com elas pessoas] tão doces.

Linda música. Lindo vídeo. Linda letra. Adorei [e viciei]! :))




E que venha o final de semana! :D


Em tempo: a outra música dele, O jogo, também é linda. Mas dá nó na garganta. Poesia pra quem acredita no amor. Quer ele acabe. Ou não.

...

Enquanto houver sol. E poesia. E os teus olhos, de longe, nos meus.


"Quando não houver esperança

Quando não restar nem ilusão

Ainda há de haver esperança

Em cada um de nós

Algo de uma criança.


Enquanto houver sol

Enquanto houver sol

Ainda haverá..."


Sérgio Britto

Com arte

Servindo de cupido a um provável futuro casal, indiquei o Mercatto D´Arte, ali na João Alfredo, para ver se os deuses dão uma forcinha lá do Olimpo. Um mimo o lugar. Se entrar apaixonado, corre o risco de sair vendo la vie en rose. Vou lá vez que outra para sentir as cores e ouvir os aromas do lugar [ei, um pouco de sinestesia faz bem]. O cantinho com pufes é uma graça e, como tudo que tem graça me encanta, o lugar está entre os meus mais queridos. As gurias atendem tri bem e o cardápio tem lá uma panqueca que é para saborear aos pouquinhos, em boa companhia e sem lembrar que o tempo passa correndo nessa loucura que virou o dia-a-dia de gente grande. Por sinal, o tempo até parece que demora mais a passar lá dentro. Nada de tumulto. Música no volume certo para conversar. Se quiser um bate-papo com os amigos, escolha as mesas maiores. Se o clima é de namoro, prefira o cantinho, e algum dos bons vinhos da carta. E aproveite o clima gostoso do Mercatto. Nas noites de inverno, nada mal rondar os telhados aconchegantes da boemia! ;)


Mercatto D'Arte
Rua João Alfredo, 399, Cidade Baixa.
Tel.: (51) 3224-9441


Em tempo: Minha amada Canon ainda não andou pelo Mercatto, por isso fico devendo a fotografia do lugar. Mas vai lá pra ver pessoalmente. Difícil não gostar.

Tô!

Affection, Gockel.

Essa letra bacana, do Tom Zé, vai de presente para um amigo muito querido que, há algum tempo, disse que ainda não tinha encontrado o amor da vida. Há pouco conversei com ele no msn e, oba, o garoto tá feliz e amando! Coisa linda de se ver. Obrigada, querido, por me fazer [ainda] acreditar no amor. E eu sei, sim, que um dia ele aparece! Mas de verdade verdadeira. Que esses de mais prosa que verso nunca me serviram! :))



"Tô bem debaixo pra poder subir

Tô bem de cima pra poder cair

Tô dividindo pra poder sobrar

Desperdiçando pra poder faltar

Devagarinho pra poder caber



Bem de leve pra não perdoar

Tô estudando pra saber ignorar

Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando pra te confundir

Tô te confundindo pra te esclarecer



Tô iluminado pra poder cegar

Tô ficando cego pra poder guiar

Suavemente pra poder rasgar

Olho fechado pra te ver melhor

Com alegria pra poder chorar



Desesperado pra ter paciência

Carinhoso pra poder ferir

Lentamente pra não atrasar

Atrás da vida pra poder morrer

Eu tô me despedindo pra poder voltar."

Insustentável


"Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento."


Milan Kundera em A insustentável leveza do ser.



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Eu li Kundera há anos. Por sorte, coincidência ou qualquer outra coisa dessas da vida, que acontecem quando mais se precisa, caiu o livro nas minhas mãos nesta manhã de domingo. Entre os trechos sublinhados - porque livros para mim não existem sem rabiscos - estavam as linhas transcritas acima. Definitivamente deve ser a hora de aprender que sentimento não se explica. E que, por uma ou outra razão, sem razão, ele acontece.