...

Mas, por favor, sem esquecer que "o essencial é invisível aos olhos".
(Saint-Exupéry)


A minha alma não tem forma,
e se encanta com a leveza
daquelas que vivem livres.

********

E que venha outubro! :)

Eles vieram da Lacônia!

Descobri. Os homens são todos originários da Lacônia. Só pode ser. Há outra explicação para serem tão concisos, diretos, objetivos? Isso detona qualquer possibilidade de romantismo para as sonhadoras mulheres, que desejam um sem-fim de frases bonitas saídas da boca do amado. Enquanto elas pronunciam algumas dezenas de palavras por minuto, eles respondem e solucionam tudo com “sim”, “não”, “combinado”, “beleza”. Içami Tiba, no hilário e descontraído “Homem Cobra Mulher Polvo”, explica que os homens falam para comunciar fatos, enquanto as mulheres, para se relacionar. Então, pare de idealizar tanto e veja a vida como ela é. Homens e mulheres são diferentes e, lamento dizer, ficar batendo o pé porque ele não respondeu do jeito que você queria é perda de tempo e início de discussões acaloradas. Calma. Dualidades não são tão ruins. Imagine se eles conversassem tanto como nós? A compra da casa, o nome dos filhos, o destino das férias, o cardápio do jantar, a trilha sonora da noite, iam parecer um longa-metragem em preto e branco. Interminável. Diferenças, dualidades, são essenciais e saudáveis. Assim, recadinho felino às mulheres: da próxima vez que perguntar ao seu namorado, marido, amigo, se ele gostou do filme a que acabaram de assistir, e ele responder com um lacônico “sim”, não dramatize. Provável que no “sim” dele esteja implícito tudo o que você gostaria de ouvir. Ele só não vê necessidade de se prolongar, entendido? E isso não significa que seja um monstro insensível que não gosta de você. É da natureza masculina ser objetivo. De contra-resposta, em vez de começar um discurso feminista e ficar de cara amarrada, mande um “que bom, sinal de que fiz a escolha certa”, e coloque um sorriso à la Júlia Roberts no rosto. Pode apostar, há grandes chances de que ele retribua com um beijo, e a noite tenha muito mais cores e amores do que se terminasse numa briga de vaidades.

Recadinho aos homens: tudo bem serem objetivos, mas, por favor, sem perder a ternura, ok? Nós adoramos um carinho. ;)

**********

Para saber... Lacônico: Do grego lakonikós (derivado de Lacônia, região da Grécia, cuja capital era Esparta). Os espartanos eram povo austero e guerreiro e não valorizavam a oratória: lutavam muito e falavam pouco. Daí o vocábulo lacônico significar de poucas palavras, por meio do latim laconicu.
http://pt.wiktionary.org/wiki/Lac%C3%B4nico

Amor?


O amor? Sei que cada amor tem uma cor. E o meu, certo, deve ser lilás. Com desejo de traços em outra cor. Mas isso é conversa para outra hora. Cor de amor. De amor sem medo, sem segredo, com malícia, mistério, carícia. E sei que cada beijo tem também uma cor. O amor tem cor de caramelo? Ou de madrugada fria? Um amor, humor, que acalenta? Ou um amor humano, natural, substantivo? Amor de todas as estações, porque a gente pode deixar o verão para mais tarde. Amor de canções, de maçãs, de beijos roubados. Amor que pode ser de romã, numa cabana, com lua cheia, ou amor de lua. Amor a dois. Amor com voz, com tez, com tudo o que se tiver que sentir. Em um segundo, e, se eu puder escolher, por toda a vida. Amor-amor, quando eu te encontrar, por favor, que seja de qualquer maneira. E pode ser em frente ao mar, bem devagar. Com nascer e pôr-do-sol. Com beijo de cinema, sorriso de criança, coração disparado e olho fechado para ver a alma. De flor em flor, te canto, amor, e um dia te encontro. Amor-amor.

Adaptado de "Qual a cor do amor?" (Cazuza)/"Deixa o verão pra mais tarde" (Los Hermanos)/"Brasileiramente linda" (Belchior)/"Amor meu grande amor" (Barão Vermelho).


Para quem perguntou o que eu penso sobre o amor. Tá aí.

Para quem quer sentir... Ouvir "Leo e Bia", do Oswaldo Montenegro, é um bom começo. ;)

".ppt" comigo não!


Direto ao ponto: mensagens com a extensão ".ppt", na minha caixa de correio eletrônico, são quase que automaticamente deletadas mesmo antes de lidas. Com exceção de um outro que abro por terem sido encaminhados por pessoas que já conhecem meu dissabor com essas extensas sequências coloridas, cheias de "fru-fru", e com aquelas músicas melosas tocando ao fundo, e, portanto, que sei não me mandariam arquivos inconvenientes (convenhamos que isso é bem amplo na minha imaginação), os anexos ".ppt" me dão medo. Será que alguém já teve a falta de paciência de ficar contando quantos slides recebeu em um ano e, destes, quantos se aproveitam? Sendo sincera: eu abro (e isso quando abro) o primeiro e vou direto ao último. Uso a mesma lógica que a das novelas: assistir ao primeiro e último capítulos é suficiente. A criatividade é imensa, e o plágio nem se fala. Já recebi textos com palavras como "pegada" e "beijaço" como sendo de suposta autoria do Mário Quintana. Sem contar naqueles arquivos que, só de olhar para o número de quadros (às vezes mais de vinte), dão arrepios. Esclarecendo, não sou resistente, e, muito menos, avessa às maravilhas da informática. Seria exagero. Receber poesia, mensagens bonitas, textos interessantes, faz bem e ajuda a estreitar os laços afetivos na era da tecnologia virtual. Agora, encaminhar um sem-fim de slides com mantras, dicas de alimentação, de beleza, de sedução, e outras coisinhas, não me atrai. Sem esquecer aqueles recados intimidadores: repasse para trinta pessoas (!) ou algo irá acontecer nas próximas vinte e quatro horas. Bem, se isso fosse verdade, minha vida estaria o caos, porque as correntes de auto-ajuda e outras do gênero vão direto para o buraco-negro mais próximo, com a intenção de que nunca mais voltem. Talvez eu esteja errada, e não seja perda de tempo olhar, nas pausas do trabalho, lindas imagens do Nepal, pirâmides do Egito ou bebês graciosos com frases bonitinhas em cor-de-rosa . Mas, até que me provem o contrário, tenho, sim, medo dos arquivos ".ppt".

***************

Em tempo: post ao som de Melissa Etheridge. Descobri a compositora e cantora americana dia desses. Show de bola! A embalada Bring Me Some Water já está entre as minhas preferidas. Música para dançar ou namorar. Pode escolher. ;)

...


Saudade se sente.


Silente.


Não queira me ensinar a amar.




"Muito para mim é nada, tudo para mim não basta.
Quero cada gesto, cada palavra, cada segundo da sua atenção.
Faça isso por mim, leve a dor para longe daqui,
estou cansada de ouvir que eu só sei amar errado,
estou cansada de me dividir.
O que é certo no amor, quem é que vai dizer, o que falar, calar e querer.
Eu quero absurdos, quero amor sem fim,
quero te dizer que eu só sei amar assim.
Eu quero absurdos, quero amor sem fim,
quero te dizer que eu só sei amar assim."

Zizi Possi

Drama à flor da pele

A intenção não era postar hoje, porque a minha inspiração estava para lá de fraquinha. Afinal, o meu foi um daqueles dias de efeito borboleta, quando alguma coisa dá errado no início da manhã e o resto do dia parece desabar. Pois bem, em vista disso, e para ele não cair de vez na minha cabeça, resolvi ficar encolhida no meu sofá com alguns DVDs e uma panela de brigadeiro para me salvar do turbilhão que foram as últimas horas. Sem críticas quanto ao brigadeiro, ok? Eu pego leve a semana inteira para poder me esbaldar no final dela. Bem, para minha sorte, a meia-noite chegou, o dia de ontem ficou na memória, e o mundo não acabou. Começou, isso sim. O primeiro filme escolhido da trilogia drama, drama e drama (eu adoro um, fazer o quê?) foi "A Pele". Juro, estou até agora buscando palavras para descrever. Só uma me vem à mente: incomum. E por isso adorei. Um passeio pelo fantástico, com um quê de Alice no País das Maravilhas e Terra do Nunca. E onde ficou o drama? Ah, não vou contar. Você vai entender assim que começar a assistir e, no mínimo, vai questionar o que é preciso perder para verdadeiramente se encontrar.


Título no Brasil: A Pele
Título Original: Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Duração: 122 min.
Ano: 2006
Direção: Steven Shainberg
http://www.youtube.com/watch?v=oHsFM1neiG8

★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆★☆

E eu continuo a desconfiar das coincidências... Um dia eu conto por que este filme caiu nas minhas mãos. ;)

Chuva, diversão e arte



Chove a cântaros na Capital, o que não me incomoda. Eu gosto de chuva na primavera. E gosto da Porto que, além de Alegre, fica mais bonita nesta época do ano. Bienal do Mercosul espalhando arte por toda a cidade, feira do livro se aproximando, teatro do Em Cena no ar. Ei, já parou para ver que os ipês da praça da Alfândega estão florindo, mesmo em dias de chuva? Não? Então corra para a rua e viva a cultura com todos os sentidos.


Da Bienal, só provei as mostras do Cais do Porto por enquanto. Destas, me encantaram, entre tantas, as de Allora & Calzadilla e me emocionou, embora com tristeza, a do americano Harrel Fletcher. Ouvi dizer que as exposições do Santander Cultural estão muito interessantes. Em breve andarei por lá. Inspire-se. Visite o site e a Bienal: http://www.bienalmercosul.art.br/.

Tempo mental


É bom estabelecer um limite de tempo mental. Ouvi a frase de uma amiga que, contando-me sobre o desejo de ser correspondida pelo suposto pretendente a namorado, o qual estava com aquela dúvida tipicamente masculina do “não sei se caso ou compro uma bicicleta”, viu-se na necessidade de estipular um prazo mental, logicamente sem ele saber, para resolver a situação. Sim, eu concordo, coisas do coração não se solucionam de uma hora para outra, com data de validade, como se fosse caixa de remédio, mas, tenhamos a santa paciência, quem espera demais nem sempre alcança, e, normalmente, cansa, isso sim. E, bem, estamos falando do sexo masculino. Homem é decidido na prateleira de eletrônicos do supermercado, na hora de trocar o carro ou de comprar carne e cerveja para o churrasco. Quando o assunto é relacionamento, via de regra, danou-se. A mulher ganha disparado em decidir. Assim, mãos à obra. Estabelecer o tal limite temporal pode ser proveitoso se a outra parte não sai de cima do muro. E, ei, se o mocinho já estiver quase pulando para lado de lá, por favor, trate de encurtar o prazo. Toda a dor de amor machuca, isso é fato, mas também não precisa ficar em regime de clausura, trancafiada em casa, sem um sorriso no rosto, por meses a fio. Isso já é tortura. Passou da espera saudável. E se ele já estiver em dúvida, não tenha dúvidas, vendo você sem ação é que vai abandonar o barco (o seu no caso) sem pestanejar. Se você demonstrou que está cheia de amor para dar, mas ele não sabe se vai ou se fica, decida por ele. Cada um tem um tempo emocional, e o seu não deve depender daquele que ele tem. Crie um tempo para o seu coração. Ele é sábio. Enquanto não dói é porque sabe que a espera pode ser válida. Agora, se está pedindo um help, talvez seja hora de parar de agir no automático e pensar. Pode parecer difícil no começo, mas lembre que se a vida não parou do lado de lá, não deve parar do seu também. Fixe limites de prazos mentais para a sua alma florir. Em vez de ficar esperando enquanto ele tenta decidir, compre você uma bicicleta nova e vá logo ser feliz. Se ele quiser, vai acelerar o passo para alcançar o seu tempo de novo. Sim, fique tranqüila, os homens, quando querem, embora precisando de um empurrãozinho, também decidem. :)

•☆•*¸.•*☆ * *•☆•*•☆•*¸.•*☆ * *•☆•*•☆•*¸.•*☆ * *•☆•*

Não sei se a minha amiga comprou a bicicleta nova. Mas está feliz da vida, amando e sendo amada. E, segundo ela, tudo no seu devido tempo.

...



















"Deixamos de sentir o que a gente sentia
que trazia cor ao nosso dia a dia
Deixamos de dizer o que a gente dizia
Deixamos de levar em conta a alegria
Deixamos escapar por entre nossos dedos
A chance de manter unidas as nossas vidas
Amanhã ou depois, tanto faz se depois for nunca mais..."


************************

Desejos de um final de semana sem nada para depois e com tudo por todo o tempo do mundo! :)

Previsões ciganas


Centro de Porto Alegre. Calor do sol beirando os trinta graus. Meu corpo pedia água tônica gelada (hoje eu gosto de coisas que aos meus dezoito anos detestava) e meus pés queriam descanso. No meio do caminho não havia pedras, mas pombos, como é de se esperar nas redondezas do Mercado Público, e, entre eles, uma cigana que me deu ótimas notícias em um início de tarde de final de semana de início de mês: "moça bonita (e só aí ela já me fez ganhar o dia) a linha da vida começa e termina no teu coração. A tua vai ser longa e feliz". Opa, meu superego cutucou, parece final de novela. Tri perfeitinho. No complemento das palavras daquela senhora com vestido colorido e tilintantes pulseiras nos braços veio o encanto do momento: "tira os pés do chão e voa, menininha", disse ela. Ri, pensando: tolice. Não se sabe do futuro de ninguém pela palma da mão. Ela se despediu, com um olhar e uma serenidade que ficaram na minha memória. Dois passos à frente eu senti uma leveza de espírito inexplicável, que durou até o final do dia. Quem sabe ainda esteja aqui, em um pedacinho do coração. Na simplicidade do gesto de uma cigana, entendi que a vida acontece em ciclos. Na palma da mão está a linha. No coração, o permitir-se voar. :)

Arte: Rose Garden, do Paul Klee. E letra da Zélia Duncan para inspirar o início desta noite...

Easy,
fique bem easy, fique sem nem razão
Da superfície
livre
Fique sim, livre
Fique bem com razão ou não, aterrise


Alma,
daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
sobrevive

Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
superfície lisa, que me alisa, seu suor
O sal que sai do sol, da superfície
Simples, devagar, simples,
bem de leve a alma ja pousou, na superfície

ღ♥ஜ ღ♥ஜ ღ♥ஜ ღ♥ஜ

Tem filosofia aí?



Recordo-me de há algum tempo ter lido um artigo do Luc Ferry sobre como a filosofia pode ser um meio eficiente de auto-conhecimento. Adorei a tese e me senti, de certo modo, aliviada de ver naquelas linhas palavras de um conhecedor sobre o assunto, já que muitas pessoas rotulam aqueles que gostam dessa disciplina como chatos sem outras alternativas mais emocionantes com as quais se ocupar. Certo, divagações, em algumas ocasiões, têm de ser curtas para não se tornarem inoportunas e maçantes, mas procurar entender o porquê das coisas de uma forma filosófica pode ser bonito e proveitoso. Faz bem para a alma e, arranho, pode ser bem mais emocionante ler Kant que assistir a um roteiro de filme americano do tipo suspense policial. Eu encontrei, por vezes, respostas a muitas dúvidas nos ensinamentos de Sêneca, Schopenhauer, Nietzsche (lógico!) e tantos outros. A filosofia é o me que sustenta. É ela que me faz livre, forte, intensa. Aos que também gostam, fica aqui a dica do livro As Consolações da Filosofia, do Alain de Botton, segundo o qual para cada mal da vida existe um remédio filosófico. Fico hoje com Sêneca. O motivo da escolha? Quem sabe acreditar que para todo o final do mês de agosto, escolhido como o tenebroso do calendário, existe um lindo início de primavera.

"Para nos acalmarmos em uma rua movimentada, devemos confiar que as pessoas que provocam barulhos nada sabem a nosso respeito. Devemos erguer uma barreira entre o barulho exterior e a sensação interior de que somos merecedores de punições. Não devemos transportar interpretações pessimistas das motivações alheias para cenários onde não há lugar para elas. A partir daí, o barulho jamais será agradável, mas ele não precisa nos enfurecer tanto: Deixemos o caos reinar por toda parte, desde que não perturbe nosso equilíbrio interior."


********************************

Luc Ferry

Nascido em Paris em 1951, Luc Ferry é filósofo e um dos principais defensores do Humanismo Secular - visão de mundo que se contrapõe à religião, por conta de seu compromisso com o uso da razão crítica em lugar da fé, na busca de respostas para as questões humanas mais importantes. Foi ministro da Educação na França de 2002 a 2004. Com Aprender a Viver, venceu o prêmio Aujourd'hui 2006, um dos mais conceituados de não-ficção contemporânea da França.

**Em tempo: E as tulipas? Estão aqui porque são bonitas (e elas nunca parecem tristes, embora possam estar). E é assim que a vida deve ser. Linda, na medida da felicidade de cada um. :)

Esses triângulos amorosos...


Ok, atire a primeira pedra a mulher que nunca se viu tentada a encarar um relacionamento, mesmo sabendo que o pretendente já tem outra. Sim, bem sei, foram-se os tempos em que a mulher era o sexo frágil. Mulher agora é independente, bem-resolvida e não se apaixona assim tão fácil. Afinal de contas, se o homem for sacana, a mulher também sabe ser. Juro, acredito nas primeiras afirmativas, sobre a independência, coisa e tal, agora, a parte do não se apaixonar? Posso apostar que até a mais legítima das aquarianas vai concordar que é difícil isso acontecer. Houve um período da história chamado de matriarcado. A mulherada comandava solta. Já li teorias um tanto exageradas de antropólogos prevendo a volta desse sistema de organização social. Sensação de vitória para o, outrora, sexo frágil, e um certo pavor para a ala masculina. Indubitável. As mulheres entraram de vez na vida política, social e sexual, antes exclusivamente machista. Hoje são empresárias, filósofas, parlamentares, jogadoras de futebol, e donas de casa por opção. Mulher hoje salta de pára-quedas, bebe cerveja, dirige melhor do que muito homem, sai de casa às 8h da manhã e não volta no outro dia se não quiser, faz filhos por produção independente, entende de mecânica, de eletricidade, e até de física quântica. E, ainda, faz samba e amor quando tem vontade. Pouco provável que isso vá retroceder. Mas, calma homens, nem tudo está perdido (leia-se ganho). As mulheres ainda amam. Disso ninguém me convence o contrário. E porque amam acabam, como diz lá no início, entrando em um relacionamento duplo, que no fundo, já sabem falho desde o começo. Conheço histórias e histórias de casos assim. Ela se envolve pelo lindo par de olhos que, na noite em que se conheceram, prometem carinhos e mimos sem-fim, para depois cair na constante esperança da exclusividade. E se faz isso é porque gosta mesmo. Mulher, raras exceções, desaba quando se apaixona. E não gosta de dividir, isso é fato. No início até releva, se faz de durona, finge ser o tipo "não vou me envolver". Mas, vá lá, no quarto ou quinto encontro (e olha que estou exagerando em consideração às mais resistentes), já está com o coração transbordando de amores, esperando o dia em que a outra parte diga: sou só seu. O problema é que, normalmente, essa frase mágica não vem, e, daí em diante, o príncipe começa a virar sapo. Tá bom, pode até ser um sapo com a carinha doce do Brad Pitt, mas, a não ser que se tenha sangue de barata, é difícil não começarem as cobranças, os pedidos de mais atenção, mais tempo juntos, de colo no final de semana, de programas a dois que não sejam só entre quatro paredes. Dura realidade, mas a preferência é, em regra, de quem chegou antes. Nada mais justo. E, lamento dizer, se você chegou tarde, vai acabar ficando com o que sobrar. O que restar das férias de verão que ele passar com a namorada, dos Natais que ele estiver na serra ou na praia, com a outra família, e só conseguir ligar escondido para dizer que sente saudade e que, na volta, terá um tempinho para vocês dois, dos aniversários que não poderá comparecer, das festas em que não poderá ir, pois pode haver amigos em comum. Enfim, ausência consentida em várias ocasiões. Que fique claro. Cada um faz o que quer, e com quem quer, e este texto não é uma crítica aos homens, cômodos por natureza quando se trata de terminar um relacionamento que já não vai bem. Mas, se por acaso, ao ler estas linhas bateu um aperto no coração, quem sabe seja a hora de rever alguns conceitos. Fidelidade e lealdade são questões de respeito. Ninguém é propriedade de ninguém. Amar é maravilhoso, mas pode ser mais ainda se o amor da sua vida for inteiro, completo, verdadeiro. Nelson Rodrigues bem disse que "pouco amor não é amor". Não viva o seu pela metade se isso estiver incomodando. Às vezes uma suposta perda pode significar um lindo recomeço. Em tempos de amores líquidos, amor incondicional parece que está fora de moda.

♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ

Para inspirar:

Sabe o que é melhor que ser bandalho ou galinha? Amar. O amor é a verdadeira sacanagem.
Tom Jobim


♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ♥ஜ

Em tempo: no paraíso não tem internet. Então, off alguns dias por aqui... Mas eu volto. ;)

Saudações felinas neste feriado que promete lindos dias de quase-primavera! :)

Felina da estepe?

Ler Demian*, do Hermann Hesse, me faz, inevitavelmente (e um tanto assustadoramente), pensar que eu possa ser uma versão feminina do Harry Heller, personagem principal do “Lobo da Estepe”, primeiras linhas que li de Hesse, e que bastaram para eu me apaixonar pelas obras do autor. Harry vive constantemente dividido entre a parte homem e a parte lobo. Aos que não conhecem esta maravilhosa obra literária, segue, antecipadamente me desculpando por ser um tanto extenso, um dos fantásticos trechos ali encontrados:

Com nosso Lobo da Estepe sucedia que, em sua consciência, vivia ora como lobo, ora como homem, como acontece aliás com todos os seres mistos. Ocorre, entretanto, que quando vivia como lobo, o homem nele permanecia como espectador, sempre à espera de interferir e condenar, e quando vivia como homem, o lobo procedia de maneira semelhante. Por exemplo, se Harry, como homem, tivesse um pensamento belo, experimentasse uma sensação nobre e delicada, ou praticasse uma das chamadas boas ações, então o lobo, em seu interior, arreganhava os dentes e ria e mostrava-lhe com amarga ironia o quão ridícula era aquela nobre encenação aos seus olhos de fera, aos olhos de um lobo que sabia muito bem em seu coração o que lhe convinha, ou seja, caminhar sozinho nas estepes, beber sangue vez por outra ou perseguir alguma loba. Toda ação humana parecia, pois, aos olhos do lobo horrivelmente absurda e despropositada, estúpida e vã. Mas sucedia exatamente o mesmo quando Harry sentia e se comportava como lobo, quando arreganhava os dentes aos outros, quando sentia ódio e inimizade a todos os seres humanos e a seus mentirosos e degenerados hábitos e costumes. Precisamente aí era que a parte humana existente nele se punha a espreitar o lobo, chamava-o de besta e de fera e o lançava a perder, amargurando-lhe toda a satisfação de sua saudável e simples natureza lupina.

A velha história das metades, como tão bem musicou Oswaldo Montenegro: “metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio; metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão; metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço”. Por vezes me sinto assim, dividida, e fico em dúvida se o que sobressai aos olhos dos outros é a minha metade sempre sensata, a que sorri sempre, a que só profere palavras amáveis, a que obedece, respeita, enfim, a que pensa mais do que sente e se preocupa interminavelmente com os desejos dos outros, ou aquela não tão racional, a metade loba (felina seria a melhor definição), aquela que mostra os dentes, que esbraveja, que se irrita, que se descontenta, que revida, que defende seu espaço, que briga, que ama com exagerado instinto e que, por isso, sofre na mesma intensidade. Metades. São metades de mim, que, vez por outra, duelam, mas que, felizmente, na maior parte do tempo, convivem pacificamente, lado a lado. Ora instinto, ora razão. E, se a alguns assusta, a mim encanta saber que, entre esses dois extremos, existem ainda outras diversas almas, cores, matizes. Outras partes do meu todo. As mil flores da minha alma. E delas eu cuido cada qual com sua graça, com seu sentido. Difícil crer que alguém seja um só o tempo inteiro. Gosto de pessoas que têm metades. E daquelas que de cada uma dessas metades sabe fazer um todo lindo, verdadeiro, pulsante. Não tenho a obrigação de ser constante o tempo todo, vinte e quatro horas por dia, nos sete dias da semana. Se oscilo é porque me mostro, porque me defendo, porque me solto, porque me escondo, porque me protejo, porque me apego, porque me liberto. E se o meu jeito assusta, lamento. Não sou, nem quero ser, estanque.

********************************************

*Demian é um livro escrito por Hermann Hesse, ganhador do Nobel de Literatura de 1946. Considerada por muitos críticos a principal obra de Hesse, Demian mostra a influência que este sofreu dos escritos de Nietzsche e a aplicação de seus conhecimentos de psicanálise na elaboração do drama ético e da enorme confusão mental de um jovem que toma consciência da fragilidade da moral, da família e do Estado.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Demian

...



"Gosto e preciso de ti
Mas quero logo explicar
Não gosto porque preciso
Preciso sim, por gostar."

Mario Lago

Precisar: Verbo transitivo. É verbo que não se constitui só, ele precisa de um complemento.

Café da manhã com poesia



Há alguns anos assisti a uma entrevista feita pelo Ruy Carlos Ostermann, no Projeto Encontros com o Professor, com o Affonso Romano de Sant'Anna, poeta mineiro que eu adoro de paixão. Descobri, naquela ocasião, que ele é casado com a também escritora Marina Colasanti. Alguém imagina o café da manhã desses dois? Ok, não estou afirmando que tudo são flores, porque quem já conviveu com alguém por mais que um final de semana ou alguns dias de férias de verão sabe das dores e das delícias do dia-a-dia juntos. Mas, vai dizer, que entre pãezinhos, sucos e geléias, não deve ser uma delícia acordar com palavras doces de poesia?

Dele é "O Silêncio Amoroso", um dos meus preferidos.

Deixa que eu te ame em silêncio.
Não pergunte, não se explique, deixe
que nossas línguas se toquem, e as bocas
e a pele
falem seus líquidos desejos.

Deixa que eu te ame sem palavras
a não ser aquelas que na lembrança ficarão
pulsando para sempre
como se amor e vida
fossem um discurso
de impronunciáveis emoções.


Dela, "Corpo Adentro".

Teu corpo é canoa
em que desço
vida abaixo
morte acima
procurando o naufrágio
me entregando à deriva.

Teu corpo é casulo
de infinitas sedas
onde fio
me afio e enfio
invasor recebido
com licores.

Teu corpo é pele exata para o meu
pena de garça
brilho de romã
aurora boreal
do longo inverno.


Que dupla hein?
Desejos felinos de um domingo maravilhoso, seja ele a dois ou em carreira solo! ;)