Lorelei

"E hoje em dia como é que se diz eu te amo?"
[Renato Russo]

Marco Busoni






Não. Eu ainda não sei. E peço desculpas pelo post "atravessado" em pleno último dia do ano. Mas eu precisei.



[assim como eu preciso dizer que te amo.

sempre. ainda que do meu jeito :)]

Das coisas de final de ano

Metas. Termina um ano. Começa outro. E as pessoas, muitas, fazem listas onde colocam suas metas. Programam os dias e os meses. Algumas até organizam tudo em planilhas [!]. Eu prefiro fazer amor e poesia a fazer metas. Mas, bem, eu posso estar errada. Por isso, hoje, resolvi fazer listas. Sim, no plural. Sou exagerada. Explico: Uma lista para as coisas grandes, dos adultos, outra como se eu estivesse no doce deleite dos meus nove anos de idade. Confesso, a lista adulta, embora contenha coisas das quais eu goste, me pareceu menos atraente do que a outra, de criança. Comer algodão doce, fazer guerra de travesseiro, contar as estrelas e adivinhar as constelações, dar a mão para um amigo, comprar uma porção de balas e confeitos, fazer desfiles com os vestidos antigos da minha mãe, tomar banho de chuva, procurar pirilampos - e encontrar! - assistir a desenhos animados a tarde inteira, beijar o menino mais bonito da escola, e por aí vai, ganhou a cor leve e nostálgica da minha infância e o sabor das tardes de verão na praia onde passo agora boa parte dos meus finais de semana. Aprendi, desta vez, que fazer listas não é nada assustador, embora a mim parecesse. Mas, afinal, para que servem os medos se não forem vencidos?

Kim Anderson

Abrace 2009 como se estivesse abraçando o amor da sua vida em um dia lindo de nascer do sol. Afague. Cuide. Faça listas. Ou não faça. Apenas viva. Não espere para ouvir palavras doces. Diga todas que tiver vontade. Não espere para amar. Só ame. Ajude sem esperar nada em troca. Descubra. Beije. Ganhe, e peça, colo. Converse. Resolva. E seja criança. Sempre. É bonito. E faz bem.

Ronronares dengosos. Nos encontramos em janeiro! :)

Em silêncio

Eu não sei fazer nada além das palavras.
Tímida.
E fim.


"Now I know that the end comes
You knew since the beginning
Didn't want to believe it's true
You are alone again, my soul will be with you."

.Edu Falaschi

Carta em origami

Howard Sokol


Querido Olavo,


desculpe, mas eu acho que ainda não aprendi a me despedir das pessoas. Será que isso se aprende na infância? Porque eu ainda fico com um nó garganta quando preciso me despedir. Uma sensação de que o mundo ficou para trás. Não deixa de ser um mundo, deixa? Você conhece alguém, gosta muito desse alguém, e um dia precisa partir. Não bastassem as malas na mão, o coração também pesa. Já viu isso? Decididamente, não me ensinaram quase nada na escola. A você ensinaram coisas além das palavras seqüenciadas dos livros?

Eu vi você correndo entre os embrulhos de papel colorido da loja da esquina, mas não consegui acenar, porque o moço da máquina de refrigerantes me tomou os últimos segundos antes de eu entrar no metrô, bem como os últimos trocados que eu tinha até chegar em casa, com aquela propaganda do chá branco em latinhas. Você sabia que agora vendem chá branco em latinhas aí em Tóquio? Se ainda não viu, tenho certeza de que logo você vai descobrir. E provar. Porque é bom. E porque, eu lembro, você gosta de todos os tipos de chá.

Ah, antes que eu esqueça, deixei em cima da escrivaninha os livros de haicai que você me emprestou. Só você para me fazer descobrir aqueles jardins bonitos e ler haicais deitada na grama do Japão. Só você.

Guardei o origami e o incenso que você me deu na minha caixa das coisas bonitas. Lembra-se dela? Quando eu sentir saudades, vou lá buscar as nossas coisas bonitas. E prometo escrever outra vez para contar notícias.

Espero que eu tenha me saído bem na despedida com as palavras escritas. Vou guardar as faladas para o nosso próximo encontro, combinado? Cuide-se. Como conversamos durante aquela brincadeira entre os hashis e os copinhos de saquê na noite do seu aniversário.

Vou sentir saudade.

Um beijo.
Mariana

De perto

Aflo

A proximidade acontece por elos bonitos. Aproximar-se é coisa séria. E não sei se percebem o quanto. Dizem alguns que não é obra das mais fáceis. Exige, sim, maestria. Mas, em que coisas da vida dos sentimentos não é preciso cuidar amorosamente da delicada forma de sentir? Aproximar-se do outro se traduz em estar perto e em mostrar o que se sente. A proximidade é necessária. Se faz bela ao unir duas mãos em amor ou em amizade. Se faz divina quando transforma tristeza em sorriso. Ou quando faz a distância dar lugar a um abraço. Aproximar-se das pessoas é uma das poesias mais doces que há no mundo. Sabe-se lá por que, outra dessas pequenas coisas bonitas da vida.





[e não complique, Alice]

Frenesi

Eram três os laços de fita sobre a pele. Dela. E a língua dele que, de leve, subia pelo colo. Em doces beijos e suspiros.


[Abre um botão. De flor.]


E o gosto dos corpos juntos em suor. Enredo sem tempo, sem segredo. Era só mais um final de tarde de verão. E se reencontraram em mãos, atos e desejo.



Paul Popper

Sobre conhecer poetas

Oote Boe

Acontece que tudo cabe
num cartão postal.
Em preto e branco. Ou em cores.
Coisas da alma,
que se deixa fotografar em sorrisos,
encontros e despedidas.







Verbo

Corsentino

Se for falar de amor, saiba, não gosto de frases prontas. Nem do estreito, correto, perfeito. Me dê versos inversos. Segredos intercalados com coisas bonitas. Quero o amor inteiro e que entorpece. Não me carregue nos braços. Preciso de abraços sinceros. Do sabor da noite e das cores do dia. Dos olhos nos olhos quando o corpo é desejo. E mais nada. Me espere, mas não muito. A minha pressa não é de prosa. É poeta. De rimas fáceis. Me tenha devagar. Como se fosse conjugar qualquer verbo bonito. Sem pressa. E intenso.


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.apenas uma gata em verbo.