invenções

um dia
me disseram
que amor é
para viver a dois

eu ri

uma vez
me contaram
que amor é
troca e
não
fuga

eu duvidei

me
explicaram
que eu iria crescer
e que o amor
iria
passar

eu não me importei

um dia escreveram
que o amor é
para sempre
que amar é bonito
e que não dói

eu sorri

um dia me ensinaram
que quem ama
não tem segredo
que amar é
cuidar de um filho
que ciúme é só vaidade

eu esperei

um dia eu sonhei
que tinha encontrado um
amor
que amar
se aprende amando
que esperar não combina com pressa

eu imaginei

não faz muito
eu percebi
que estava fazendo tudo
às avessas
e que amar é
apenas sentir

eu cresci

de vez em quando
eu disfarço que amar
é colorido e que
chorar não combina
com amar

eu aprendi

na segunda-feira
eu penso que amor
é só uma coisa legal
e na sexta eu sempre amo mais
do que eu gostaria

eu me descobri

dia desses
eu quase desisti
do amar e li
Drummond de
frente para o mar

eu mudei

depois de adulta
eu aceitei
que amor de verdade
é raro
que
acontece sem querer
e nos torna inteiros
simples
assim

eu te conheci

Non-stop


 
Conheci o Flávio numa parada de ônibus. Ponto de ônibus, dizem os cariocas. Mas eu digo parada porque sou do Sul. Era um começo de noite de outono, lá pelas sete e quinze da noite, e o Flávio, que morou no Rio de Janeiro durante doze anos, me perguntou qual era o ônibus que passava pelo Moinhos de Vento. Eu respondi que não sabia, porque eu raramente andava de ônibus. Ele achou engraçado porque, para ele, andar de ônibus era a regra. Ele dificilmente pegava táxi e ainda não tinha carro. O Flávio me contou que usava o carro do pai, nos finais de semana, para visitar a namorada, que morava eu outra cidade. Namorada!, é lógico que o Flávio tinha uma. Mas, mesmo assim, eu e o Flávio trocamos números de telefone. Quando ele disse, ao se despedir, que tinha me achado muito bonita e simpática, eu me apaixonei. Para mim, sempre funcionou assim, um elogio e um sorriso simpático significam quase a mesma coisa que um pedido de namoro. E eu fiz de conta que era possível namorar o Flávio a partir de um encontro na parada de ônibus. Pode parecer estranho, mas eu me apaixono tão fácil que dá até medo. A minha terapeuta diz que eu preciso aprender a ficar sozinha e a trabalhar as inseguranças. Mas isso é invenção do Jung ou do Freud. Eu prefiro me apaixonar várias vezes na semana a virar uma solteirona aborrecida. 


em tempo: o texto é das antigas.
mas sempre vale a pena refletir sobre quem fomos - ou precisamos ser.  
to voltando!
y sea lo que sea ;)