Cortina de contas


Vez que outra eu conto um segredo. Nas cores de uma cortina de contas. Em conto ou poema. E, por que não, em fábulas? Elas lembram a minha infância. Da altura dos meus noventa e poucos centímetros, a estante de livros na sala de casa, há alguns anos, parecia gigante aos meus olhos. Mas os livros de fábulas, aquelas de Esopo, estavam sempre estrategicamente posicionados ao meu alcance [meu pai sempre soube das coisas!]. Nesse ponto, eu concordo com o Jorge Luis Borges: o paraíso deve ser algo parecido com uma livraria. Cheio de livros e de sorrisos. Ainda acredito no poder das fábulas para encantar os pequenos, mesmo não sendo tão miúda em relação aos móveis antigos da casa dos meus pais. Mas é por isso, por acreditar que amar é algo inocente, como um sorriso de criança, que me encantam as pessoas que guardam um pouco da magia das fábulas e da doçura infantil, ainda que depois de adultas. E é por isso, e agora vem a hora de revelar o que antes era segredo, que eu gosto tanto de presentes. Sim, presentes. Aqueles em pacotes coloridos e de qualquer tamanho. Vale a delicadeza do embrulho, a cor do laço, e o minuto que antecede a surpresa do que posso encontrar ali dentro. Descobri, dia desses, que é por isso que eu gosto de te desvendar assim, aos poucos. Como se estivesses, a cada dia, me entregando um presente. De talvez vidas outras que nem sabemos quantas. Mas é por isso que te olhar, mesmo de longe, se é assim que deve ser, é sempre doce, suave, leve. Por isso que te amo com frases de flores, nuvens e estrelas. Mesmo que não queiras, mesmo que não saibas. É por isso que te amo ontem, hoje, e sempre. Amor com as cores de uma cortina de contas.

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"Porque eu, meu amor, acho graça até mesmo em clichês."

[Adriana Calcanhoto]

2 comentários:

  1. Bonito início, para falar de amor. Parabéns, adorei o post. Muito bem escrito. Abraço!

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  2. para falar de amor, basta amar! ;)

    beijo grande, querido!

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palavras são apenas palavras,
movimentam o mundo desde
sempre, mas nem todos sabem.