Isabela


Monika Brand

Isabela gosta de poesia, amor e luar. Isabela tem cabelos compridos e pele de maçã. Isabela é sozinha e tem um gato, Juan, siamês de pelo macio e olhos azuis. É o gato de Isabela quem ganha colo e afagos. Isabela falou que prefere gatos a homens. Isabela, exigente, não mostra os dentes, e o decote, para qualquer um. É mulher para casar. E separar. Namorar. E casar de novo. Isabela não gosta de convenções sociais e datas festivas. Melhor para ela é ler encostada no sofá da sala ou deitada entre as almofadas de cetim da poltrona do quarto. Isabela gosta de chá, de romance e de abraços apertados. Usa vestidos longos e toma banhos demorados. Isabela não gosta da água nem muito quente nem muito fria. E reclama com a empregada se os lençóis da cama não estiverem trocados. Isabela compra rosas brancas para enfeitar o quarto. Isabela decora versos e soletra Shakespeare com voz de avelã. Aliás, as avelãs são apetitosas para Isabela. Assim também como é apetitoso o vinho da adega e as frutas que Isabela cultiva no jardim. Isabela gosta de carambolas, uvas e romãs. Isabela não tem um castelo. Ela mora no apartamento pequeno da rua Bolívia. Aquele com pequenas plantinhas na janela. Isabela não gosta de mentiras, não faz mistérios e não gosta de coisas da moda. Isabela guarda fotos e separa os fatos. E separa até as refeições. Isabela, mesmo gulosa, separa tudo e saboreia cada coisa de cada vez. Seletiva que é, não gosta de misturas. Mas com as cores Isabela brinca. Porque as cores são mais fáceis de combinar. Difícil é o amor. Por isso Isabela não mistura o amor. Ela separa o amor em porções de afeto, carinho e saudade. E cuida do amor com zelo e paciência. Como quem cuida de um bonsai de delicadas cerejas. Isabela não gosta de namorados que se dizem príncipes porque eles são enfadonhos e indecisos. Isabela prefere guerreiros. De barba rala e roupa gasta. De mãos fortes e palavras doces. Isabela é a bela que ainda vive sozinha no pequeno apartamento da rua Bolívia. E não se incomoda com isso. Mesmo que nenhum homem seja uma ilha, Isabela sabe que as mulheres são fortalezas. E Isabela é forte. De corpo e alma. Um fortaleza de menina.

4 comentários:

  1. E que siga os banhos demorados...

    Descrições breves e variadas. Compus a personagem. Bom jogo de palavras entre foto/fato e a sua fluidez p/ descrições mais pessoais e da "coisa" que a sociedade tentar impor p/ uma mulher independente, um par.
    abraço

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  2. a gata agradece o carinho das palavras, Eduardo!

    miaditos de boa semana para ti.

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  3. Em divagações, imagino Isabela tão bela por fora quanto foi descrita por dentro. Imagino seu olhar levemente melancólico, e os sonhos e desejos fervilhando em sua cabeça. A vida é um mistério.

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  4. e ainda bem que é um mistério, Geraldo! se a vida estivesse pronta, não teria graça.

    :)

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movimentam o mundo desde
sempre, mas nem todos sabem.