Eu

Sempre pensei mais nos outros do que em mim. E isso me machucava tanto que eu sentia uma vontade imensa de ser o outro, de pensar e de agir como o outro, de me vestir e de falar conforme o que o outro pensava. Agia assim para me esquecer de quem eu era. Quando percebi, eu já tinha 35 anos. Agora estou aprendendo a gostar mais dos meus medos do que da coragem alheia. Sou bonita do jeito que sou, sou feia do jeito que sou, sou magra, gorda, clara, escura, poeta e um pouco atrevida. Sou o que me fiz ser. Pensei demais em você, em vocês, neles, nela, no colega, no irmão, no guarda de trânsito, na faxineira, no advogado, na atriz, no caixa do supermercado, no porteiro, na professora, no aprendiz. E cansei de ser todos esses outros sujeitos diferentes todos os dias da minha vida. Hoje sou eu do jeito que sou. A desconstrução é minha. O descobrir-me é meu. 

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