Não gosto desse jogo


Os verbos da moda agora são bloquear e desbloquear. Não, nada de telefone ou conta-corrente. Estou falando de pessoas. Amigos, como são chamados no orkut, e contatos, no messenger. Tenho conhecidos que costumam fazer isso com a maior freqüência e eu, com a mesma, fico impressionada com tal atitude. Tudo bem, se tem algo que eu prezo é aquela máxima de que cada um faz o que bem entende da sua vida e não deve explicação aos outros, mas confesso que esse paradoxo de adicionar (eis outro verbo moderno) enlouquecidamente pessoas que, muitas vezes, mal se acabou de conhecer, nos programas de relacionamento ou de conversação, só para aumentar o suposto "ibope" pessoal, e depois bloqueá-los como se fossem peças de xadrez que ora se coloca em um lugar, ora em outro, dependendo da situação que for ao jogador favorável, me soa, no mínimo, infantil. Sei que acontece de, em algumas ocasiões, conhecermos pessoas que, de início, nos agradam, depois, já não tanto, e aí, tudo bem, nada demais em manter um afastamento saudável até para que o outro não se torne uma pedra no seu sapato. Simpatia e antipatia acontecem, é natural. Mas daí a ficar bloqueando e desbloqueando, adicionando e excluindo pessoas, é, isso sim, uma tremenda falta de maturidade. Reflexo dos tempos de relacionamentos superficiais e "de bolso", como descreve Zigmunt Bauman em "Amor Líquido". Pessoas chatas existem, e sempre haverá uma ou algumas na sua vida, como o/a ex-namorado/a que não desgruda, a sogra, o cunhado maledicente, o chefe irritado, a vizinha inconveniente. E, lógico, tem momentos na vida em que você gostaria de exportá-los, junto com todos os problemas, para outro planeta bem distante. Agora, a menos que você seja um psicopata, não é recomendável sair por aí excluindo todos que estiverem, de alguma forma, incomodando a sua utópica vida perfeitinha. Excluir ou bloquear os outros é, no meu entender, para quem tem medo de ouvir verdades, para quem tem medo de conversar e não conseguir convencer, para quem tem medo de sentimento, de movimento, do confronto saudável, do olhar direto e das palavras também. Particularmente, e eu gosto assim, atraem-me outros verbos, que não os tão usados hoje em dia. Amar, gostar, preferir, adorar, unir, separar, escolher, ganhar, perder, conhecer, atrair, provar são alguns dos que me dão a deliciosa certeza de viver no mundo real. Esse jogo de bloquear e excluir pessoas nunca foi meu forte, mas à vontade quem se acha no direito de fazê-lo.

Inclua, e não exlua, pessoas na sua vida... Uma noite chuvosa é propícia para tanto...
Atualização do post [31.12.08]: eu pensava assim porque nunca tinha amado. ou não sabia amar. amar, sem ter amor, dói. e qualquer maneira de tentar amenizar essa dor é válida.

2 comentários:

  1. "...Amar, gostar, preferir, adorar, unir, separar, escolher, ganhar, perder, conhecer, atrair, provar são alguns dos que me dão a deliciosa certeza de viver no mundo real..."

    Dani, esse teu parágrafo diz tudo... em tempos de "ficar"... em tempos em que o amor ou é líquido e se perde entre os dedos ou é sólido e se desmancha no ar, pode parecer para alguns que os relacionamentos iniciados ou mantidos via inet valham o mesmo... adicionar / bloquear / excluir / desbloquear... a bel prazer, como se houvesse apenas o clique do mouse... tempos modernos, tristes e amargos tempos modernos...

    Eu ainda prefiro certas surpresas que a vida me prega, surpresas que virtuais ou reais me desestruturam como diz Fito em Un Vestido y un Amor:

    Yo no buscaba nadie y te vi / Eu não procurava ninguém e te vi...

    Dani, já ando com inveja dos teus textos... tu escreves muito menina!!! :)

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  2. lu, não sei se escrevo tão bem. o certo é que escrevo com o coração... talvez por isso agrade a tantas pessoas. e é muito bom saber que agrada a ti. :)

    bom final de semana menino!

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sempre, mas nem todos sabem.