Divã numa rampa de vôo-livre



Um dia lindo de domingo. Melhor ainda se visto do alto. Se alguém já subiu o morro de Osório, aqui no Rio Grande do Sul, sabe do que eu estou falando. Tudo bem, não é a espetacular beleza da Pedra da Gávea, no Rio, mas a paisagem fica linda lá de cima. O Morro da Borússia (ok, o nome é estranho e concordo que dá vontade de rir, mas você esquece rapidinho isso quando chega lá). O visual é lindo. Uns 5km de subida e é possível avistar inúmeras lagoas da região e, ao fundo, o mar. Eu, adoradora da natureza que sou, me senti em casa. Felina selvagem? Sem dúvidas me soa melhor que gata domesticada. Mas o que me chamou a atenção foi a rampa de salto-livre. Uma estrutura de madeira, simples, projetada para saltos de asa-delta me valeu mais que muitas sessões no divã. Explico: Ao chegar no último mirante, eu, já embevecida com a beleza do lugar, fui, de pronto, o mais próximo que pude do final da rampa, deliciando-me com o contraste do verde da mata e o azul das águas e do céu. Na minha mente era possível pintar um arco-íris de lilás ali. Mais alguns minutos e, juro, eu encontrava o estado do nirvana. Paz, sossego, o suave calor do sol de inverno no rosto. Descobri um paraíso entre dias de semana tão corridos. A interrupção do meu momento zen veio quando uma mãe, que estava ali por perto, zelosa pelo filho, gritou para o pequeno ter cuidado com os vãos da rampa. Pronto. Quem olhou para os tais vãos fui eu. E porquê? Que sensação ruim. Desequilibrei legal. Quem conhece rampa de salto-livre sabe que as madeiras são um tanto separadas, acredito que para dar a flexibilidade necessária ao impulso e aos saltos. Pois bem, logicamente, entre estas fendas se consegue ver o chão. Aquela mesma sensação de quando se passa por uma ponte pênsil, daquelas bem antigas de madeira, que balançam para caramba. Se você olhar para baixo, já era. Desequilibra mesmo. Ali era de uns cinco ou seis metros a altura, e eu senti um friozinho na barriga quando olhei para baixo. O vento era forte e, naquele momento, eu esqueci da beleza que tinha a minha volta, prestando atenção no medo de perder o equilíbrio. Mas bastou olhar novamente para o horizonte para que a boa sensação voltasse. E daí, bom, difícil não associar. Os medos sempre estão ali, em você, em algum lugar guardados na história da sua vida, nos seus segredos, no seu íntimo, naquele cantinho de você que só mesmo você conhece, e basta que se dê um tanto de atenção a eles, os problemas, para surgirem e, literalmente, nos tirarem o equilíbrio. Não é possível mandar os medos embora, muito menos fingir que eles não existem. É normal do ser-humano sentir medo quando vê sua segurança ou sua individualidade em perigo. Pode até ser saudável que os medos, as ansiedades, as inseguranças, vez por outra, tentem aflorar, para termos a certeza de podermos vencê-las. Conheço algumas pessoas que dizem não ter medo de nada. Não sei até onde pode ser possível, mas respeito a convicção de cada um. Já aos que convivem com seus medos, e sabiamente os vencem, saudações felinas. Saber olhar o horizonte é para poucos. Ver a vida assim, também. E são essas as pessoas que eu quero do meu lado daqui em diante.

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OSÓRIO
MORRO DA BORÚSSIA
Serra com beleza da Mata Atlântica, altitude 400 m, excelente para a prática de vôo livre e linda vista panorâmica, podendo-se observar a serra, lagoas e o Oceano Atlântico.
CASCATA DA BORÚSSIA
Com infra-estrutura de lazer, área para piquenique e churrasco. Propriedade particular, distante 12Km da sede. Entrada pelo Km 98 da BR 101 perto de Osório.
COMPLEXO DE LAGOAS
Cordão de lagoas interligadas, correndo paralelo ao Oceano Atlântico. Possibilita a nevegação e a prática de esportes náuticos.

2 comentários:

  1. Difícil não associar...

    Uma vez li (ou será que vi em um filme?) que o medo é nosso amigo, ele nos protege... algumas vezes ele é a última barreira antes de deixarmos alguma situação de conforto e estabilidade... outras vezes apenas servem para postergar o inevitável.

    A verdade é que todos temos medo de algo em algum momento de nossas vidas, alguns não gostam da palavra medo e chamam de insegurança (o excesso de segurança também é sinal de medo), outros de desconforto...

    há também aqueles que usam o medo para se esconder da realidade, o medo é um ótimo escape, uma ótima desculpa para sermos acomodados...

    acho que eu aprendi a conviver com os meus, poucos eu consegui realmente vencer, a maioria simplesmente sumiu e deu lugar a outro... o monstro saiu de dentro do armário e agora ronda outros lugares :)

    Dani, texto show de bola... me encontrei nas tuas linhas.

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  2. sem medo dos medos a vida é mais bonita. simples assim, não é lu?

    obrigada pelo carinho de sempre! :)

    bjs querido.

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