Céu de baunilha

Raymond Gehman


Aprendi, em pouco mais de trinta anos, coisas que nenhum filósofo escreveu, que astrólogos não imaginaram, que cientistas sequer arriscaram, que artistas não desenharam, e magos não descobriram. Inventei palavras, sentidos, emoções. Construí castelos de areia e de sonhos. Quebrei barreiras. Li e sorvi a vida em livros, em alamedas, e nos copos de absinto do bar da esquina. Caí em armadilhas. Em camas-de-gato. E de sedução. Aprendi que viver, sem medo, sem pudor, é a melhor das dádivas da vida. Aprendi que errar é necessário. E que acertar faz bem para o ego e para a alma. Desvendei mistérios de religiões e de seitas. Perdi medos. Aceitei diferenças e contragostos. Chorei de dor e de felicidade. Percorri a sanidade e a loucura em limites tênues. E decidi viver com as duas em equilíbrio. Percebi que amigos são raros e que irmãos, às vezes, são distantes. Fiz viagens das mais diversas. De Baudelaire às viagens astrais. Joguei fora o comodismo e os padrões antigos. Aprendi a abrir os olhos para o calor do sol mesmo no frio do inverno e para as cores bonitas da noite, em tons de gris, azul e negro. Contei estrelas e inventei constelações. Roubei flores, amores, e espaços. Entendi que julgar é apenas um exercício de vaidade e que ouvir e estender a mão é uma habilidade sublime. Percebi, em tempo, que abrir os olhos para o novo é mágico. E se reproduz em vida. Aprendi a viver dias trespassados por nuvens brancas e céu de baunilha. Na escrita da vida, que é a minha, aprendi a viver com os olhos atentos ao que me faz feliz. O resto vai além do limite do céu. E isso agora não me interessa.

8 comentários:

  1. Muito show. Um dia chego lá... que seja um céu cinzinha mesmo já tá bom!!! hehe Beijão!

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  2. De onde vem tanta beleza assim?
    Fico leve, aqui nesse meu cantinho preferido :)
    Bjus minha querida

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  3. dias de céu de baunilha para vocês, queridos :))

    ronronares felizes!

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  4. Legal! Acho que é por aí mesmo: meter a cara na vida sem muitos receios. Alguém cunhou uma expressão: "qualidade de vida", e lhe atrelou uma série de conceitos que tornou as pessoas muito chatas. Ou então foi mal compreendido... Porque, de forma a buscar essa tal "qualidade de vida", as pessoas se tornaram covardes. Temem tudo agora. Temem fracassar, se magoar, chorar, sofrer... Qual é? Isso faz parte do jogo também, correto? E o que seria da arte sem essas peças fundamentais? Quantas obras primas já foram construídas sobre grandes decepções? Bom, mas isso é apenas um exercício de reflexão...

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  5. Nossa que delícia!!! Fazia um tempo que eiu não passava aqui...mas ele continua bom demais...30 anos de vida e um céu de baunilha...que delícia essa nossa experiência!

    Beijo minha amiga!

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  6. Felinea
    Praticamente a minha autobiografia ! Sensacional queria a maturidade dos 30 no descompromisso dos 20 e poucos anos. Adoro me jogar,sentir o vento na cara, sem esperar muito do amanhã. Sensação que sempre vai acontecer algo de novo. Eu quero é viver e aproveitar o que me faz feliz.
    Muito bom "Céu de Baunilha"

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sempre, mas nem todos sabem.