(In)conto


Eu gosto de contos. Mas não os de fadas, que, a mim, nesta fase da vida já parecem chatos. Melhor deixá-los para a inocência das crianças, as quais precisam do lúdico para começar a entender o mundo. Então, nada de explicações frágeis ou enredos bonitinhos mas ordinários. Prefiro contos de verdade, daqueles em que o final surpreende. Dispenso a escrita difícil, pomposa, pois o conto requer simplicidade. Sem dizer demais, e sim o suficiente. Usar a forma de diálogo talvez seja interessante. Eles são estimulantes, envolventes. Uma pitada de humor não faz mal, mas moderado. Ah, sim, deixe-me respirar. Admiro a estilística do Saramago, mas, desta vez, nada de parágrafos intermináveis. É para ser um conto, não uma obra-prima da literatura russa. Um tanto de verossimilhança com a realidade é essencial. Não me faça de tola. Já disse, não gosto de contos de fadas. Nada de duendes, Gatos de Botas, ou donzelas como a Bela Adormecida. Príncipes encantados estão fora de cogitação. Espécie em extinção. A coleção dos irmãos Grimm fica bem na estante de casa, e lá permanecerá para ao deleite de algum entusiasta pelo gênero ou, quem sabe, dos meus sobrinhos, quando deixarem de lado a tela do computador e descobrirem a maravilha das obras impressas. Sem querer ser pessimista, mas me parece que a ingenuidade não convence mais. Pitadas de Balzac, Sade, Joyce, Kafka são liberadamente permitidas. Um conto de cantos e canções reais, allegro, ma non troppo, porque, como diz aquele poema do Victor Hugo, o riso diário é bom, mas rir de tudo é desespero. Quero um conto que me encante. Que tenha o tempo certo, sem exageros. Com construções e distrações no momento certo, que me conte da vida o que eu não sei, num enredo singelo, apaixonante, presente, completo.

Ainda não descobri de onde veio a inspiração para este texto... Mas veio assim, não mais que de repente. Do coração, da alma...

4 comentários:

  1. Pouco posso escrever sobre um texto tão bem elaborado e verdadeiro...

    O arquiteto modernista Mies Van der Rohe disse "less is more"... com repulsa aos românticos adornos arquitetônicos tão adorados por alguns...

    Robert Venturi (um recalcado arq. pós-moderno) muitos anos depois largou: "less is bore...", defendendo que a arquitetura deve ser eclética e sem pretensões, deve ser feita da maneira que mais agrade às pessoas...

    Porém, para mim, a melhor leitura foi feita por Frank Lloyd Wright: "Less is more only when more is too much."

    Tudo o que é demasiado parece perder a sinceridade e a razão...

    Porém devemos ter cuidado, sem um mínimo de poesia em nossas vidas saímos sempre com o guarda-chuva aberto (e pouca coisa é mais aborrecida do que um guarda-chuva), pois não enxergamos dias de céu azul.

    Lindo texto, como sempre, Dani!
    bom domingo.

    ResponderExcluir
  2. é isso não Lu? o mundo é simples, as pessoas que o complicam. ;)

    obrigada pelo comentário, e lindos dias de céu azul para ti!

    ResponderExcluir
  3. Dani
    Parabéns. Gostei muito de todos os textos escritos. Estão muito belos.Tb concordo que contos de fadas e estorinhas ainda servem para criar na infância a curiosidade pelas coisas , gerando assim a expectativa para as fantasias da adolescência. É uma forma simplista de forjar-se a personalidade das pessoas de forma dosada para não se tornarem amargos seres. Estás trilhando um caminho reservado aos que primeiro analisam o espaço e que se tornam fonte fértil da sabedoria. beijos. Teu Pai.Cezarol-TM, 30072007.-

    ResponderExcluir
  4. "Meu pai não me disse como viver; ele viveu e deixou-me observá-lo." Clarence Buddinton Kelland

    te amo pai, simples assim!

    ResponderExcluir

palavras são apenas palavras,
movimentam o mundo desde
sempre, mas nem todos sabem.