Vanessa HoPedi uma torta e um café. Sobraram algumas coisas.
Sei o dia do ano em que nasci. E o horário. Mas tenho dúvida se fui gerada ou se fui colhida de uma árvore de maçãs.
Se me olhassem de dentro diriam: "uma menina tímida, bonita, e que precisa de amor." Mas me olham de fora, e, de fora, riem, ou sorriem, contando versos e prosa para a moça forte e que não chora. Concluí, certa vez, que não fui programada para amar pouco. É, não fui. Exageraram na dose do verbo. Fui conjugada no infinitivo mais que perfeito do futuro do indicativo. E, por isso, toda a minha constante sensibilidade. Coisinha tola! Essa ternura que se confunde com a cor rosada da minha pele. Um metro e sessenta de altura e, em tudo, doçura. Isso vale o quê hoje em dia?
Antes eu fosse uma daquelas mulheres exuberantes e de seios fartos, que pronunciam, aos quatro ventos, palavras rudes sem qualquer melindre e baforam fumaça de cigarros. Daquelas que contam das paixões antigas, riem alto, e dizem não amar nem sob tortura. Vai ver é para isso que serve o amor. Para ser desconstruído. Sempre suspeitei. As mulheres ousadas conseguem desconstruir o amor. Eu não. Eu fico triste e digo que, se é tristeza, logo passa. Coisa de menina programada.
Preciso de uma pausa. Breve como são algumas das pausas da vida. Mas que me baste para ver que além daqui, do que eu vejo, existe o que me completa. Não sirvo para rotina. Quero mãos abertas e palavras futuras. Coisas passadas não me sustentam.